Em Guarapuava, o show de drones que iluminou o céu da cidade ontem à noite não entregou apenas espetáculo visual. Assim que a apresentação terminou, uma onda de questionamentos tomou conta das redes sociais e das conversas pela cidade. O brilho das luzes deu lugar ao brilho do número que mais chamou atenção: R$ 240.000,00, valor pago pela Secretaria Municipal de Educação, sem qualquer disputa de preços.
O montante está registrado no Processo Administrativo n. 1094/25, formalizado pela Ordem de Compra n. 298066, que contratou a empresa Visual Farm Produções LTDA por inexigibilidade de licitação. A justificativa menciona criação artística autoral dirigida pelo artista Alexis Anastasiou, tratada como inviável de competição. Ainda assim, a explicação não foi suficiente para conter a revolta de parte da população, que questiona a falta de concorrência e a prioridade no uso dos recursos.
A chama ficou ainda mais forte quando a cidade relembrou que, na gestão anterior, o Processo Administrativo n. 1094/22, vinculado à Secretaria Municipal de Turismo e Eventos, registrou a Ordem de Compra n. 270091, contratando a mesma empresa por R$ 149.990,00, mediante pregão com disputa de preços. A diferença de quase R$ 90.000,00 entre os dois registros reacendeu discussões sobre critérios, valores e decisões administrativas.
Mas nada provocou mais indignação do que a constatação de que o pagamento do show foi feito com recursos da educação. Em meio a necessidades estruturais nas escolas, demandas pedagógicas em aberto e desafios diários enfrentados pela rede, muitos moradores passaram a questionar a prioridade adotada pelo município. A pergunta que ecoa por Guarapuava é direta e incômoda: por que um show de drones de R$ 240.000,00 foi financiado com verba da educação.
A realização do espetáculo ontem potencializou o debate. Enquanto alguns elogiaram o impacto visual, outros viram na apresentação um símbolo de escolhas desconectadas da realidade da educação municipal. O contraste entre o brilho das luzes e as dúvidas que pairam sobre o processo fez o assunto ganhar proporções ainda maiores.
Até o momento, a prefeitura não apresentou esclarecimentos sobre os critérios utilizados para a contratação sem concorrência, sobre a diferença entre os processos 1094/22 e 1094/25, e sobre a justificativa para que a Secretaria de Educação arcasse com o custo do evento. Com isso, cresce a percepção de que a polêmica deve dominar as discussões nos próximos dias.
O show de drones iluminou Guarapuava por alguns minutos. As polêmicas acesas por ele, ao que tudo indica, prometem durar muito mais.

