Existe algo muito mais perigoso do que a ausência de política: é quando ela se transforma em guerra. Não guerra de ideias, mas de vaidades. Não embate de projetos, mas de egos. E é exatamente isso que vem acontecendo em muitas cidades — inclusive na nossa.
A briga política local tem deixado de lado o debate saudável e entrado numa espiral de disputas mesquinhas, onde o que está em jogo não é o bem do povo, mas a sobrevivência das narrativas e o enfraquecimento do “outro lado”. Só que essa guerra tem uma consequência óbvia: o povo perde.
Projetos deixam de sair do papel, recursos deixam de ser aproveitados, servidores públicos vivem sob tensão, e lideranças que poderiam contribuir com soluções são silenciadas por medo de serem associadas a um lado ou outro. A cidade empaca porque os líderes preferem se enfrentar do que se ouvir.
Política não é torcida organizada. Não deveria ser sobre quem grita mais alto, mas sobre quem trabalha com mais responsabilidade. E aqui, infelizmente, temos assistido a uma série de brigas que mais parecem reality show político do que administração pública séria.
Enquanto isso, as reais demandas da cidade seguem esperando. A mãe que não consegue atendimento para o filho, o comerciante que lida com insegurança, o jovem sem perspectiva, a escola com estrutura precária. Todos eles ficam em segundo plano enquanto os políticos medem forças.
A Doutrina Social da Igreja nos lembra que a política é uma das formas mais nobres da caridade, justamente porque lida com o bem comum. Mas como falar em caridade quando há soberba? Como servir ao povo se tudo se resume a atacar o outro?
Não se trata de ser neutro. Se trata de ser maduro. De entender que a cidade precisa de pontes, não de trincheiras. Que o povo precisa de soluções, não de espetáculos.
Está na hora de olhar para a política com mais responsabilidade. De deixar os discursos inflamados de lado e sentar à mesa com quem pensa diferente — por mais difícil que isso pareça. Porque se não houver diálogo, só haverá atraso. E a cidade, que é de todos, não pode continuar pagando o preço da imaturidade de poucos.
A cidade é nossa casa comum. E casa que se divide, desaba.